GRANDES CASAS DE PEDRA1: ESTUDOS SOBRE O CORPO EM BONES, DE CHENJERAI HOVE

Autores

  • Gustavo Santana Miranda Brito Faculdade Alfredo Nasser

Resumo

Resumo: O presente artigo irá analisar as relações estabelecidas entre o Corpo, a Terra e a Memória no romance Bones (1988), do poeta e romancista Zimbabuense, Chenjerai Hove. O estudo dos  romances revelou a profunda relação que os habitantes da antiga Rodésia, hoje Zimbábue, tinham com suas terras e com seus ancestrais. O objetivo deste trabalho é apresentar as mudanças que ocorreram na cultura da etnia Shona, depois da chegada dos colonizadores e missionários, no final do século XIX. A perspectiva adotada por esta crítica observa em cada um dos corpos dos personagens nativos uma intensa luta entre duas forças desequilibradas, que costumavam ser o fundamento da realidade ancestral do Zimbábue. De um lado tem-se a Terra, considerada sagrada por seu aspecto místico. A Terra carrega os cordões umbilicais de todos os recém-nascidos e os ossos de todos os que já se foram, ela é a casa dos ancestrais, chamada por eles de Pasí. Do outro lado estão os ancestrais, responsáveis pelo acúmulo de conhecimento. Os ancestrais representam a memória coletiva do povo Shona; eles conectam os indivíduos à natureza através de sua transcendência. Com os Ancestrais, cada Shona pode conversar com a terra e ser escutado através dos ouvidos místicos de seus pais espirituais. No entanto, quando chegam os colonizadores, chamados de aqueles sem joelhos, por causa de suas calças, eles impuseram, através da violência, uma cultura totalmente nova para aquele modelo ancestral de existência. Este trabalho avalia as consequências da imposição da cultura do colonizador,  que causa a perda das tradições religiosas locais, comportamentos morais profundamente enraizados, técnicas de manejo da terra, e tantos outros aspectos da cultura colonizada. Para o Corpo, a violência física, a imposição da língua inglesa e a proibição dos dialetos locais. Para a Terra, nova técnicas de cultivo do solo e de manejo de animais, direcionadas para o lucro. Para a Memória, a imposição do Cristianismo. Por causa dessas feridas materiais e imateriais, as novas gerações são forçadas a recuperar sua memória ancestral através de uma recriação atualizada de seu passado. Seguindo essa trilha, este estudo também se dedica a observação da mulher negra zimbabuense, sendo discriminada sexual e intelectualmente por um sistema patrilinear em uma sociedade que deve resolver seus próprios problemas culturais de discriminação, assim como aqueles legados pela colonização.  Palavaras-chave: Zimbábue. Literatura Africana. Corpo. Estudos pós-coloniais.

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Publicado

2017-09-20